quinta-feira, 23 de maio de 2019

Nobres e Gismontis, e um piano na praia...


Neste próximo final de semana teremos a "primeira" inauguração do recém construído teatro em nosso quintal na Guarda do Embaú, sede do Instituto Casa Nobre (www.institutocasanobre.com). Até o final do ano serão várias! Como o assunto é repleto de significados para mim, resolvi escrever um pouco, para marcar a data e registrar uma história.

Desde criança fui estimulado por meus pais a estudar Música, e embora tenha demorado algum tempo, logo descobri o poder transformador que ela exerceria sobre minha vida, tanto na esfera pessoal quanto profissional. Sim, tive e continuo tendo inúmeras oportunidades como médico facilitadas pela presença da Música, acreditem.

Foi na época da faculdade de Medicina, na UFRJ, que tive o primeiro contato com a Música de Egberto Gismonti. Seria difícil encontrar as palavras certas para descrever o enorme impacto que aquelas fascinantes frequências sonoras exerceriam sobre mim. A partir daí, comecei a entender, primeiro intuitivamente e depois através do estudo, o enorme tesouro que possuímos pelas influências mestiças que se manifestam ao fazermos Música em nosso país, e a importância de Gismonti nesse contexto. Chiquinha, Nazareth, Villa Lobos, Pixinguinha, Radamés, Jobim, André Mehmari e Lea Freire, entre tantos outros gênios, passaram a fazer parte de uma rotina de deliciosas descobertas musicais a partir de então.

O impacto desse aprendizado foi tão grande, trazendo inclusive a sanidade imprescindível para exercer os nobres ofícios de médico e professor, que após muitos anos, com o nascimento de minha filha Carolina, voltei a estudar piano. Nesse período, realizei o sonho de adquirir meu primeiro piano de cauda. Incrível a sensação que temos ao tocar um instrumento tão fabuloso, que carrega uma orquestra em suas entranhas! Logo percebi que o "monstro" deveria ir para a casa da praia, não apenas devido ao seu tamanho, mas também ao astral e tranquilidade que existem por lá. Em lá chegando, qual não seria minha surpresa ao ser seguidamente interpelado pelas amigas e mães da comunidade, solicitando aulas para seus filhos, carentes e sedentas por entrar nesse universo de cultura, de difícil acesso num local reconhecido quase que exclusivamente por suas incríveis belezas naturais. Com o estímulo e auxílio de inúmeros amigos, que doaram os primeiros instrumentos, e com especial dedicação ao projeto do irmão de artes Ricardo Vieira, iniciamos uma experiência baseada no método Suzuki, que já perdura por mais de 5 anos, com excelentes resultados. Utilizamos a Música como ferramenta, ou até "pretexto", para juntarmos uma garotada linda, e seus pais, e irmos aprendendo, juntos, sobre a força e importância de conceitos como coletividade, respeito ao próximo, compromisso, disciplina, e prazer em fazer parte de uma turma que vai ficando tão diferente através da cultura!

É nesse contexto que surgiu a ideia de levantarmos o teatro, também contando com a fundamental participação dos amigos da comunidade, a princípio para que eu pudesse ficar livre daquele "bando" todos os finais de semana em minha casa 😆, mas sobretudo como uma sede confortável para os ensaios. Logo surgiram várias novas ideias, e o interesse de muitos queridos amigos artistas em participar.

E como a vida dá muitas voltas, quase que por um passe de mágica recebemos a incumbência de preparar a casa para receber, como primeiro evento em nosso teatro no jardim, nada menos que Bianca Gismonti, filha do mestre Egberto. Bianca tem, em conjunto com Julio Falavigna (bateria) e Antônio Porto (baixo), transformado essas influências em nova linguagem, e disseminado o belo resultado pelo mundo afora, através de recitais e oficinas. Para quem acredita no conceito de Reciprocidade, tá aí um belo exemplo! Obrigado a todos os amigos que acreditam e compartilham conosco esse projeto. E obrigado aos Gismonti! A família Nobre, bastante ampliada agora por tantos filhos e irmãos na Música, os recebe de braços abertos.





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